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A cidade compacta é a de usos mistos; portanto, favorável ao caminhar. É assim a cidade que tem o jeito Abrasel de ser. O adensamento nos eixos de transportes de São Paulo vai na direção de uma cidade da escala humana

O manifesto Abrasel prega que as cidades brasileiras, principalmente as grandes metrópoles como São Paulo, tenham fachadas ativas, com prédios mistos e que se tornem cidades mais compactas, onde os habitantes tenham mais praticidade na locomoção. Foto: Wikipedia Commons

Durante um mês e meio, parecia que a cidade de São Paulo estava à beira de uma confrontação entre dois grupos antagônicos. Motivo da discórdia: qual rumo deveria se dar à revisão do Plano de Desenvolvimento Estratégico (PDE) do município, que está em vigor desde 2014. O intenso acirramento verbal ocorreu em três audiências públicas promovidas pela Câmara Municipal, em seu Salão Nobre.

Os opositores da proposta de revisão do PDE alegavam que as autoridades municipais vinham se entregando aos interesses do mercado imobiliário. O plano de 2014 (que está em vigor) fomenta o adensamento habitacional, com prédios mais altos nas geografias laterais dos eixos de transportes.

O que se propõe na revisão do PED é encorpar e acelerar esse adensamento. Por exemplo: em vez de a edificação de um novo prédio ter área construída correspondente a seis vezes o tamanho do terreno, que corresponda a nove vezes.

Eis mais um fator de estímulo ao adensamento. A geografia das laterais dos eixos de transporte, de acordo com o atual PDE, atualmente tem um raio de 600 metros, medido a partir da estação do metrô. Na revisão, o raio estende-se a 700 metros.

Além da estação do metrô, outra referência de medida é a das pistas de ônibus. Atualmente, podem ser erguidos prédios em uma extensão de 300 metros, a partir do corredor de ônibus. O mencionado raio, a partir do corredor de ônibus, passará para 450 metros.

Os opositores da revisão alegavam que os prédios mais altos, distribuídos em áreas ainda mais extensas, eram concessões às incorporadoras de imóveis. Também havia na proposta
original da revisão do Plano Diretor a ideia de se romper com uma histórica cultura da cidade.

Propunha-se que fossem liberadas à construção de edifícios as áreas das tradicionais “vilas”, que são conjuntos de casas com arquiteturas idênticas. Esse tópico foi prontamente descartado pelo relator. Mesmo assim, os incansáveis opositores da revisão do Plano Diretor não se acalmaram.

Diante da grita dos adversários da proposta, em uma ala formada por vereadores e lideranças de organizações sociais, generalizadamente tinha-se a impressão de que seria alto o risco de uma derrota da proposta de revisão do Plano Diretor. Em pelo menos três vezes, a oposição levou seus questionamentos ao Judiciário, sem êxito.

Com serena habilidade, o relator da revisão, vereador Rodrigo Goulart, viu que, depois de um ininterrupto mês de muito se empenhar para se alterar o rumo dos acontecimentos, o ambiente começou a ficar mais arejado.

O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (atual ministro da Fazenda) discretamente acabou entrando em cena, fazendo valer a sua inteligência e diplomática capacidade de arejar o ambiente com a prevalência do bom senso.

Fato é que a revisão fortalece ainda mais as diretrizes originais do Plano de Desenvolvimento Estratégico, que foi instituído em 2014, durante o mandato do então prefeito Haddad. O hoje ministro havia recebido, naquela época, generalizado apoio dos urbanistas.

Aplausos ao Plano Diretor de 2014 também tinham vindo do atual secretário-adjunto na Secretaria Municipal de Urbanismo de São Paulo, José Armênio de Brito Cruz. Naqueles tempos, ele presidia o Departamento paulista do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/SP).

Os mais reconhecidos urbanistas do mundo inteiro dizem que não importa a altura do edifício. O que importa, mesmo, é se esse prédio dialoga com a cidade, por meio de fachadas ativas. Ou seja, que a parte térrea dos edifícios esteja dotada de lojas, cafés, livrarias, floriculturas, restaurantes e de uma ampla calçada frontal.

E mais: que nas cidades também não se tenha áreas e bairros “exclusivamente” residenciais. O que até pode haver, como diz Haddad, são áreas e bairros “predominantemente” residenciais.

A cidade compacta é a de usos mistos; portanto, favorável ao caminhar. É assim a cidade que tem o jeito Abrasel de ser. O adensamento nos eixos de transportes de São Paulo vai na direção de uma cidade da escala humana.

*Paulo Solmucci é presidente-executivo da Abrasel.

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